“O patriarcado é um juiz que nos castiga por nascer. E nosso castigo é a violência que você não vê”, cantaram dezenas de mulheres pelas ruas de Santiago, no Chile, na última segunda-feira (25), considerado o Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra as Mulheres.
Para marcar a data ― em um contexto de protestos no Chile ― o coletivo feminista Lastesis, com base em Valparaíso, realizou a performance Un violador en tu camino (Um estuprador no seu caminho, em tradução livre) em seis pontos da capital chilena, entre a Plaza de Armas e o Ministério da Mulher.
Instituída pela ONU há dez anos, a data de 25 de novembro lembra um crime ocorrido em 1960, quando as irmãs Minerva, Patria e Maria Teresa Mirabal, conhecidas como “Las Mariposas” e ativistas contra a ditadura, foram mortas a mando do regime do presidente da República Dominicana, Rafael Trujillo.
Um dos vídeos da performance que circula nas redes sociais chegou a ser assistido por cerca de 2,3 milhões de pessoas. Assista abaixo:
Os protestos na capital chilena pelo Dia Internacional para a Eliminação da Violência contra as Mulheres ocorreram em um ambiente de manifestações contra o presidente Sebastián Piñera. Protestos em massa já duram mais de um mês e cerca de três mil pessoas ficaram feridas e 23 mortos contabilizados.
″É o feminicídio. Impunidade para o assassino. É a desaparição. É o estupro”, diz a canção de protesto do Lastesis. Em 2019, 41 feminicídios foram registrados no Chile, seis a mais do que no mesmo período em 2018, segundo dados do Ministério da Mulher e Igualdade de Gênero do país sul-americano.
No final de outubro, grupos feministas do país se organizaram para denunciar estupros e violências sexuais, que meninas que iam a protestos vinham sofrendo por policiais e militares. Para investigar os casos, uma missão do Alto Comissariado da ONU para Direitos Humanos (Acnudh) foi enviada ao país.
Segundo dados do Observatório da Igualdade de Gênero da América Latina e do Caribe (OIG) da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), pelo menos 3.529 mulheres foram mortas em 2018 por razões de gênero em 25 países da América América Latina e Caribe.
Dados do Anuário de Segurança Pública apontam que, em 2018, 1.206 mulheres foram vítimas de feminicídio, uma alta de 4% em relação ao ano anterior. De cada dez mulheres mortas, seis eram negras.
A faixa etária das vítimas é mais diluída: 28,2% têm entre 20 e 29 anos, 29,8% entre 30 e 39 anos. E 18,5% entre 40 e 49 anos. Nove em cada dez assassinos de mulheres são companheiros ou ex-companheiros.
Veja a letra completa de “Um estuprador em seu caminho”:
O patriarcado é um juiz
Que nos castiga por nascer
E nosso castigo
É a violência que você não vêO patriarcado é um juiz
Que nos castiga por nascer
E nosso castigo
É a violência que você não vêÉ o feminicídio
Impunidade para o assassino
É a desaparição
É o estuproE a culpa não era minha, nem de onde eu estava, nem de como me vestia
E a culpa não era minha, nem de onde eu estava, nem de como me vestia
E a culpa não era minha, nem de onde eu estava, nem de como me vestia
E a culpa não era minha, nem de onde eu estava, nem de como me vestiaO estuprador era você
O estuprador é você
São os pacos [policiais militarizados]
Os juízes
O Estado
O presidenteO Estado opressor é um macho estuprador
O Estado opressor é um macho estuprador
O estuprador era você
O estuprador é vocêDorme tranquila
Menina inocente
Sem se preocupar com o bandoleiro
Que o seu sonho
Doce e sorridente
Será velado por um amante policialO estuprador é você
O estuprador é você
O estuprador é você
O estuprador é você