O último leito do Hospital do Mandaqui, em São Paulo, era ocupado por Marcelo, 11 anos. O menino estava deitado, seu corpo conectado a vários fios, seus olhos cobertos com gazes e em sua boca um tubo gigante.
A Dra. Camila contou que Marcelo estava em coma, entubado, por conta de uma infecção depois de uma cirurgia no apêndice. Ao seu lado, a mãe, olhos marejados, buscava o infinito com um olhar triste.
Os palhaços Cavaco e Chabilson se aproximaram calmamente e perguntaram se podiam tocar uma música para Marcelo. A mãe disse que ele não estava ouvindo. Cavaco avisou que, conforme o estudo da Ciência e da Besteirologia, o ouvido continua funcionando. Ela abriu um pequeno sorriso de meio centímetro e permitiu que tocassem para seu filho.
Ao ritmo de um sambinha, com cavaco e chocalho em mãos, os palhaços foram passando informações importantíssimas para o menino.
– Bom dia, Marcelo! Aqui quem fala é o Cavaco e o Chabilson. Hoje o céu está azul, o sol está brilhando, o Corinthians perdeu o jogo de ontem, meu cabelo não está muito bom, amanhã será terça…
E despediram-se da mãe, cujo sorriso já estava mais aberto, totalizando quase um centímetro a mais.
Na quarta-feira retornaram à UTI do e encontraram a Dra. Camila com um sorriso de três centímetros. Ela contou que Marcelo havia despertado.
Cavaco e Chabilson seguiram até seu leito e lá estava ele: olhos abertos, sem o tubo gigante em sua boca, um pouco sonolento. Quando viu os palhaços, logo abriu um sorriso.
– Oi, Marcelo, que bom que está melhor. Você lembra de nós?
– Lembro sim!
A mãe dele, a médica e a enfermeira ficaram impressionadas. A mãe, desconfiada, perguntou novamente:
– Lembra mesmo, filho?
E ele, com toda convicção, disse que sim. Então Cavaco continuou:
– Lembra que conversamos, Marcelo?
– Sim!
– Lembra que eu falei que o Corinthians perdeu?
– Sim!
– Lembra que tocamos uma música?
– Sim!
– Que bom, Marcelo, eu sabia que você estava aqui o tempo todo. Ainda bem que não costumamos falar mal de ninguém, pois se tivéssemos você também se lembraria!
Ao redor, todos estavam sorrindo surpresos com as lembranças de Marcelo.
O sorriso de sua mãe já estava com dez centímetros. Seu olhar, cheio de vida e alegria. O filho estava bem melhor.
Conversaram mais um tempo, fizeram exames besteirológicos, palhaçadas e precisaram seguir adiante, pois Marcelo não podia rir muito por conta dos pontos da cirurgia. O sorriso já estava de bom tamanho!
Cavaco e Chabilson se despediram e disseram que voltariam na próxima semana. E não queriam encontrá-lo lá! Que era melhor ele ir pra casa, brincar com os amigos da escola e ficar com sua família.
Na semana seguinte, Marcelo havia recebido a alta.
Os palhaços comemoraram a notícia com a equipe. Assim, foram do coma à comemoração, do zero aos cinco centímetros de sorriso.
E continuaram seguindo, de um leito para o outro, em busca de mais comemorações, altas, alegrias e sorrisos mais largos.
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