Em um raro aceno à imprensa - um de seis principais alvos desde a campanha -, o presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta quinta-feira (18) que o Brasil precisa cada vez mais da mídia para que a “chama da democracia não se apague”.
A declaração também foi feita logo depois de oSupremo Tribunal Federal (STF)ter ordenado que a revista Crusoé retirasse do ar uma reportagem que citava o presidente da Corte, ministro Dias Toffoli, no âmbito de um inquérito sigiloso para apurar notícias falsas e crimes contra a honra de ministros do STF.
Sem fazer referência ao caso, Bolsonaro disse que, apesar de “alguns percalços” que ele teve com a mídia, “nós precisamos de vocês para que a chama da democracia não se apague, precisamos de vocês cada vez mais”.
“Palavras, letras e imagens que estejam perfeitamente emanadas com a verdade. Nós, juntos, trabalhando com esse objetivo, faremos um Brasil maior, grande e reconhecido em todo cenário mundial”, afirmou, durante discurso na comemoração do Dia do Exército, em São Paulo.
Na terça-feira, Bolsonaro já havia feito uma defesa da liberdade de expressão, classificando-a como “direito legítimo e inviolável”, em uma publicação no Twitter.
Na semana passada, o ministro do STF Alexandre de Moraes determinou que a Crusoé retirasse do ar uma reportagem que apontava suposta ligação de Dias Toffoli, com a Odebrecht, sem indicar qualquer suposto crime que o presidente do STF teria cometido.
O inquérito sigiloso, do qual a decisão fez parte, foi aberto por portaria do presidente do Supremo, que tem por objetivo apurar a existência de notícias fraudulentas (fake news), denunciações caluniosas, ameaças e infrações revestidas de crimes de honra, que atingem a honorabilidade e a segurança do Supremo, membros e familiares, extrapolando a liberdade de expressão, segundo documento do tribunal.
A abertura do inquérito e a decisão de determinar que a reportagem fosse retirada do ar foram alvo de críticas de parlamentares e de entidades, como a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).
O inquérito sigiloso também gerou embates entre a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, que chegou a anunciar o arquivamento da investigação, e Moraes, que rejeitou a medida de Dodge e manteve o inquérito, agora prorrogado por Toffoli por 90 dias.
Na quarta-feira, o presidente do Supremo disse que a liberdade de expressão não é absoluta e não pode ser utilizada para alimentar o ódio e a intolerância, durante discurso em que não citou a decisão de Moraes.