Depois de desrespeitar os nordestinos, o presidente Jair Bolsonaro tentou se redimir em seu discurso na inauguração do aeroporto Glauber Rocha, em Vitória da Conquista, Bahia.
“Eu amo o Nordeste. Afinal de contas, minha filha tem em suas veias sangue de cabra da peste. Cabra de Cratéus, o nosso estado aqui, mais pra cima, o nosso Ceará. Quem é nordestino aqui levanta o braço. Quem concorda com o presidente Jair Bolsonaro levanta o braço. Tamo junto ou não tamo (sic)?”, declarou o presidente em uma breve fala.
Na sexta (19), o presidente se referiu aos nordestinos como “paraíba”. “Daqueles governadores de... “paraíba”, o pior é o do Maranhão. Não tem que ter nada com esse cara”, disse ele ao ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni. O áudio foi captado pelos microfones.
No Rio de Janeiro, berço político de Bolsonaro, “paraíba” é usado de forma jocosa para falar de oriundos do Nordeste. No sábado (20), o presidente minimizou; disse que sua “crítica” era unicamente direcionada aos governadores da Paraíba e do Maranhão por “esculhambarem obras federais”.
Nesta terça, Bolsonaro aproveitou também para agradecer aos prefeitos de Salvador, ACM Neto (DEM), e de Vitória da Conquista, Herzem Gusmão (MDB), que o receberam na porta do avião da FAB (Força Aérea Brasileira). Também lamentou a ausência do governador baiano, Rui Costa (PT), afirmando não ter preconceito sobre partidos, mas disse que não aceita quem deseja “impor a nós o socialismo ou o comunismo”.
Não foi apenas o petista quem se recusou a ir ao evento, também faltaram o presidente da Assembleia Legislativa da Bahia, Nelson Leal (PP), e a filha do cineasta baiano Glauber Rocha, homenageado no nome do aeroporto, Paloma Rocha, além de aliados do petista.
Com a expectativa de uma recepção repleta de manifestações, o evento não foi transmitido pela TV Brasil, a emissora pública responsável pela cobertura de todas as cerimônias presidenciais.
Inicialmente, havia a intenção de blindar o presidente contra manifestações programadas por movimentos sociais. Contudo, a multidão favorável que compareceu nas proximidades do aeroporto surpreendeu. Ele foi recebido e ovacionado aos gritos de “mito”.
Apesar da ausência da Polícia Militar, cuja atuação foi impedida pelo governador Rui Costa, o presidente fez questão de aparecer do lado de fora do aeroporto - o que não estava previsto - e chegou a se aproximar da grade que o separava as pessoas.
“Não estou em Vitória da Conquista, não estou na Bahia, nem no Nordeste. Estou no Brasil. Não há divisão entre nós: [divisão por] sexo, raça, cor ou religião. Somos um só povo com um só objetivo: colocar esse grande país em um lugar de destaque que merece”, completou o presidente no discurso.
Dentro do saguão onde ocorreu a cerimônia formal, Bolsonaro falou para um público de cerca de 600 pessoas, a maioria convidada pela própria Presidência.