Pelo menos é que defenderam economistas em debate sobre o livro promovido na tarde desta sexta-feira (3) pela UFABC, em São Bernardo.
Sim, o livro mais discutido ultimamente no mundo da economia - e que tem lançamento previsto, no Brasil, para novembro - continua a ser comentado no Brasil.
Isso porque o conteúdo escrito pelo economista francês Thomas Piketty interessa a todo o mundo capitalista. OS EUA voltam a discutir a ideia de concentração de renda após décadas.
Piketty provou pela primeira vez com números - dados do imposto de renda de diversos países - que o mundo caminha para concentrar o dinheiro nas mãos de poucos. O culpado tem nome: o mercado financeiro.
O negócio funciona assim: a renda do capital (dinheiro ganho no mercado) é maior e mais rápida que a renda do trabalho (como a grana ganha por um operário na indústria, por exemplo). Além disso, a renda do capital não gera empregos. É apenas dinheiro fazendo mais dinheiro.
Piketty acredita que o mundo caminha para um futuro onde os bens e riquezas estariam tão concentrados que voltaríamos à Era Moderna: alguém só subiria de classe social a partir de casamento ou herança.
Aí o economista defende duas questões. Uma consiste na taxação sobre grandes fortunas, levada ao debate no Brasil pela candidata à presidência Luciana Genro (PSOL).
Já dados pesquisados e analisados pelo francês mostram que a concentração de renda no mundo só caiu por um tempo após a 2ª Guerra Mundial, quando os governos intervieram mais nas economias para ajudar na reconstrução dos países.
O livre mercado defendido pelos economistas ortodoxos promove uma sociedade melhor? Piketty leva a concluir que não.
Mas nem tão à direita, nem tão à esquerda
As mudanças defendidas no livro empolgaram críticos ao mercado. "O Capital no Século XXI" seria uma continuação de "O Capital", obra prima de Karl Marx, o padroeiro dos comunistas.
Piketty seria um marxista que comprova suas teses com números.
O professor de economia da UFABC Vitor Schincariol, entretanto, analisa que o francês não é isso, nem ao menos alguém com ideias keynesianas (que defende certa intervenção do Estado na economia).
Piketty seria apenas um "liberal crítico" que defende o mercado, mas dá importância para a distribuição de renda e quer um mundo melhor.
O próprio francês classifica Marx em sua obra como um economista "apocalíptico" e não cita o período da Guerra Fria no mundo, embate entre o mundo capitalista e socialista, que poderia ter relação com a queda ou crescimento da concentração de renda.
Piketty não menciona pensamentos econômicos. Despolitiza a economia ao deixar de fora as questões políticas e a ideia de conflito entre classes sociais, como também analisa a professora Cristina Reis.
A análise dos professores é interessante, já que a separação entre política e economia é feita pelo discurso liberal e visto por economistas "à esquerda" como um discurso ideológico. O que é exato não presume opinião. Logo, constitui pensamento único. A economia não dependeria de questões política, e sim, de números.
Entretanto, a ciência econômica faz parte das ciências humanas. Trata de pessoas que tomam ações sociais, que não são previstas por números.
Brasil
O terceiro economista docente na mesa, Giorgio Romano, politiza a questão no país. O período Vargas (1930-1954) e Jango (1961-1964) mostraria que o crescimento econômico faz com que as "elites" não hesitem em quebrar o "pacto democrático" para defender os seus interesses.
Os principais candidatos à presidência fogem, hoje, de falar em uma reforma tributária.
Temos um sistema tributário que concentra renda. A maior parte da arrecadação ocorre por impostos indiretos. Não incidem sobre patrimônios, mas sobre produtos. Tanto os ricos quanto os pobres pagam os mesmos valores.
Para o professor, se discute muito também no país a inclusão social, mas nem tanto a ideia de distribuição de renda. A questão pega fogo na época de eleição após 12 anos de governos que criaram e fortaleceram programas sociais como o Bolsa Família.
Claro, acreditar que um Congresso Nacional composto for famílias ricas e poderosas poderia aprovar um imposto sobre grandes fortunas ainda é longínquo. Mas o importante é discutir.
De qualquer forma, o debate sobre como diminuir a desigualdade social e a diferença de renda entre os mais ricos e mais pobres ao menos permanece no ar, independente dos ideários que acredite o autor de "O Capital no Século XXI".
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